sábado, 28 de janeiro de 2012

É MESMO TUDO POR AMOR E DOAÇÃO?

Os perigos que corremos hoje são muitos. Acredito que não sejam diferentes daqueles que viveram os nossos primeiros irmãos na fé, apenas com características diferentes. Se eles sofriam com as perseguições sangrentas, nós, no mundo pós-moderno, vivemos a perseguição fria, infelizmente fria em todos os sentidos. Muitas vezes o mundo que nós conhecemos e construímos trata as coisas da fé com uma cruel indiferença, até quer os benefícios do sagrado, de Deus, mas não quer nada que coloque parâmetros nisto, não quer a Igreja. Quando a querem é do jeito que pensam, da maneira que mais convém. Tenho falado constantemente do perigo de um cristianismo emocional, egoísta, solitário, frio...

            Temos uma meta, seguir a missão de batizados, nos assemelharmos a Jesus irmão, pastor e salvador. Não podemos esquecer este motor que tudo move, ele é o centro de nossas verdadeiras energias. Na primeira carta aos Coríntios o apóstolo Paulo, já naquele tempo, nos colocava diante desta mesma preocupação: “As rivalidades e contendas que existe no meio de vós acaso não mostram que sois carnais e que procedeis de modo humano apenas? Quando um declara: “Eu sou de Paulo” e outro: “Eu sou de Apolo”, não estais apenas no nível humano? Pois, que é Apolo? Que é Paulo? Não passam de servos pelos quais chegastes à fé. A cada um o Senhor deu uma tarefa: eu plantei, Apolo regou, mas era Deus que fazia crescer (1 Cor 3, 3-6).

Estamos tendo mais amor às nossas invenções e particularidades do que à única Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo. As rivalidades estão crescendo no meio de nós sem nos darmos conta, cada um se orgulha de ser do seu grupo, da sua pastoral, do seu movimento. O bispo – que é o pastor maior na Diocese – muitas vezes fica falando sozinho e muitas vezes nem sabemos o que ele pensa ou como quer dirigir o seu povo para a salvação. Ele é a unidade visível no meio de nós. Não é – com todo o respeito que tenho a eles -  os padres e fundadores que se destacam na mídia e que fundaram verdadeiros impérios religiosos nos nossos dias. Eles são santos, belos, estão trabalhando muito pelo Reino de Deus, louvado seja Deus por isto, que suas obras cresçam mais. Contudo não somos deles, somos da Igreja e esta é de Cristo. “Portanto, ninguém ponha a sua glória em ser humano algum. Sim, tudo vos pertence: Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro, tudo é vosso, mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus ( 1 Cor 3, 21s).

            Há uma coisa interessante aqui, pastorais vem de pastor, não são grupos de “amiguinhos” que se fecham para as outras realidades... é ação, comunhão e serviço. Ficar parados em uma reunião nos faz ter muito tempo para contendas e pouca evangelização: viver a Boa Notícia da Salvação do Filho de Deus, seguir seus passos, ter como nossas as suas idéias, atitudes, missão, etc. Parece que estamos sendo um povo muito religioso e pouco evangelizado. Estamos aqui para sermos Igreja, quem vem junto? Conhecer, amar, levar e dar-se. Todas as pastorais devem entrar na “fábrica” dos santos. Não precisamos de pastorais para elas mesmas, nem só para nós, mas para toda a criação.

A pastoral que não se fizer presente também não vai ter presença. Temos que ter a coragem de dizer: “não conte conosco para continuar no vazio angustiante e diabólico de não fazer nada”. Se não vivemos uma experiência profunda nós é que sentiremos a falta, não esqueçamos, nós é que precisamos. Por que é tão difícil perceber isto? A Igreja cresce e cai comigo. Ela é, até um certo ponto, o que eu sou. Quanto mais egoísmo e divisão mais falta de conversão e menos testemunho. E é o que o mundo mais precisa. “Que as pessoas nos considerem como ministros de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. Ora, o que se exige dos administradores é que cada um se mostre fiel. Quanto a mim, pouco me importa ser julgado por vós ou por alguma instância humana. Nem eu me julgo a mim mesmo... Aguardai que o Senhor venha. Ele trará à luz o que estiver escondido nas trevas e manifestará os projetos dos corações. Então, cada um receberá de Deus o devido louvor” (1 Cor 4, 1-3.5).

Nesta perspectiva, São Paulo, deseja que nosso trabalho tenha a cara de Cristo e da Igreja, tenha o cheiro de todo estes mais de 2.000 anos de cristianismo em unidade, para a unidade, na pedagogia do serviço humilde, sem buscas exageradas por poder e sucesso. O que se espera de quem trabalha pelo Reino de Deus é que o ame e seja fiel ao Reino, não aos seus achismos. Devemos ter a coragem do Apóstolo Paulo, ele não tinha medo do que iam dizer dele, apenas queria manter-se fiel ao que tinha recebido e o que a pessoa dele representava. Quando Jesus vier tudo ficará claro, seria bom se os meus projetos, se os nossos projetos estivessem de acordo com o coração dele, não só com os nossos. Cada um receberá a recompensa se nosso desejo foi sempre servir e construir o que Deus quer de nós.

            Irmãos, se assumirmos estas características, as do amor, da unidade, da escuta, não vamos perder nada, pelo contrário, vamos ser mais da família de todos os nossos pais na fé e de nosso Senhor Jesus Cristo. “Se, portanto, existe algum conforto em Cristo, alguma consolação no amor, alguma comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, completai a minha alegria, deixando-vos guiar pelos mesmos propósitos e pelo mesmo amor, em harmonia buscando a unidade. Nada façais por ambição ou vanglória, mas, com humildade, cada um considere os outros como superiores a si e não cuide somente do que é seu, mas também do é dos outros. Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus” (Fl 2, 1-7).

Roguemos ao Espírito Santo do Senhor que nos faça chegar a esta estatura de nosso irmão Paulo, aqui está a sabedoria e o amor com que devemos alimentar nossas vidas e nossa caminhada humana, cristã e eclesial. Que a Virgem Maria, mãe da Igreja, nos ajude a fazer parte desta barca, sem ambição e busca de glórias. Concluo dando graças a Deus e reafirmando a pergunta título: é mesmo tudo por amor e doação?


Pe. Rômulo Azevedo da Silva

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

PEQUENAS PALAVRAS

Quanto mais queremos coisas,
mais nos afundamos no desespero por não consegui-las.
Certamente a arte de viver está no simples respirar e agradecer.
Depois, só depois,
construir o que for possível com os elementos que a história nos proporcionar.

Pe. Rômulo Azevedo da Silva

sábado, 14 de janeiro de 2012

CATÓLICOS: NEM DE VEZ EM QUANDO E NEM DE QUALQUER JEITO!

            Uma coisa interessante! Uma boa parte do Povo de Deus hoje, podemos dizer, a Igreja que conhecemos e somos, é parte de nossa época. Não entendo como é  que pessoas vivem com saudade de coisas que não viveram. Explico-me! Como é que uma criança que já viveu a época da TV à cores – e nunca viu uma em preto e branco – pode ter saudades daquela que não conheceu ou conhece? Como é que alguém pode ter saudades de um tempo que não viveu? Como é – em se falando de vida eclesial – que alguém pode ter saudades do tempo da Igreja Tridentina (com todo respeito e amor a esta) sem ter conhecido ou vivido nesta época? São coisas que realmente não dá para entender. A Igreja passou por tantos momentos bonitos e significativos nestes últimos séculos, momentos até dolorosos de libertação e crescimento. Tanto se lutou para nos tornarmos mais humanos, simples, pobres, mais próximos do Povo de Deus, mais fraternos e, até mais santos.

Na década de 60 do último século tivemos o fato heróico do Beato João XXII, quando, mesmo com resistência, convocou o Concílio Vaticano II para dar ares novos à Igreja de Jesus Cristo. Nestes últimos dias acompanhamos nossos pastores da América Latina e do Caribe gerando para a nossa vida eclesial um verdadeiro tesouro (em Aparecida do Norte/SP). Como é que podemos fazer de conta que tudo isto não tem importância para a gente? Como podemos querer viver uma Igreja do nosso jeito se ela nunca foi e nunca pode ser fruto do que eu penso e quero? A Igreja é fruto do sopro do Espírito Santo, é Ele quem tudo governa e tudo deve ser como Ele determina. Não podemos travar a caminhada da Igreja, nem obrigá-la a voltar a momentos e práticas que a história já demonstrou que não dá mais. Foi muito bom, para aquele tempo, naquele momento da história. Hoje temos o nosso tempo, com as nossas próprias preocupações, belezas e desafios.

            O Documento de Aparecida nos coloca diante de uma exigência e necessidade que, na verdade, não é nada novo, é a essência da Igreja. Quem gosta de coisas antigas está aí, nada é mais antigo do que a dignidade que nos é dada de graça com o Batismo, nos tornarmos templos vivos de Deus, filhos adotivos no Filho e termos uma vida que vá se assemelhando a sua própria vida. “Esta V Conferência se propõe “a grande tarefa de proteger e alimentar a fé do povo de Deus e recordar também aos fiéis deste Continente que, em virtude de seu batismo, são chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo (DAp 10). As atitudes e costumes de Jesus devem fazer parte de nós. Isto só será possível quando tomarmos consciência de que somos e queremos ser discípulos e missionários do seu amor, do seu Reino.

A missão e a nossa responsabilidade para com o mundo e para com a Igreja deve ser uma realidade presente em nossos dias, ações e lutas. Se digo que sou católico e não assumo o que os nossos bispos “colocaram na mesa do mundo” com tanto amor, na Conferência de Aparecida, conteúdo que deve dar a tonalidade da nossa alma eclesial nos próximos anos, então estou vivendo uma contradição enorme. Ser católico é ser com toda a Igreja, especialmente a Igreja da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério. O que a Igreja quer é que sejamos de Cristo em tempo integral, em todos os momentos, quando estivermos na comunidade à qual pertencemos, em nossos grupos, na família, no trabalho, no lazer, nas férias, enfim, sempre e em qualquer circunstância, sermos realmente cristãos católicos, comprometidos com o Salvador, com a sua Igreja, e com os pés na nossa história, não criando uma ilusória. É claro que não precisamos ser todo-poderosos ou perfeitos ao extremo, só Deus é assim, precisamos apenas amar um pouco mais.

Vejamos um fato que deve nos fazer pensar. O próprio Documento de Aparecida diz que devemos valorizar as práticas da religiosidade popular (Dap 258), isto é verdade, é um tesouro inesgotável. Contudo temos no nosso Seridó um bom número de “católicos” que vivem sua fé de festa em festa, de uma procissão uma vez por ano, vão à Igreja no Batismo, na Primeira Eucaristia, na Crisma, no Casamento (olhe lá), quando morre alguém da família, etc. É uma fé de eventos e não de uma vivência diária e contínua de comunidade cristã. Não quero aqui reprovar aquelas pessoas que moram em comunidades distantes e que só tem, realmente, condições de vir à cidade uma vez por ano na procissão do padroeiro(a).

Mas convenhamos que no mundo de hoje não há mais tanta dificuldade assim não é? Até porque em quase todas as comunidades, pelo menos aqui em nossa Diocese de Caicó, há uma Capela ou pelo menos um sacerdote celebrando uma vez por mês, no mínimo. Sem falar nos leigos e missionários que assumem em todos os recantos este belo trabalho de evangelização. Desculpem o meu pensamento, mas acredito que em muitas pessoas é uma questão de acomodação ou, o que é pior, uma falta da verdadeira fé, uma falta de um encontro pessoal com o Senhor que morreu e ressuscitou para nos salvar.

A missão, e responsabilidade pela a caminhada da igreja, não é só do padre mas de todo batizado. A Igreja é um pouco o que eu sou, a minha Paróquia vai ser o que disponibilizo para ela. Vejo que falta fé no mundo que vivemos, falta compromisso e uma consciência de co-responsabilidade. Se as outras igrejas são mais animadas é  porque há pessoas lá mais comprometidas do que nós. É verdade que estamos tento um retorno ao Sagrado, porém um sagrado baseado, às vezes, no egoísmo, individualismo, numa espiritualidade livre, sem limites ou regras e marcada pela mídia e pela filosofia do comércio, do lucro, da busca de benefícios e respostas imediatas.      

Certamente este não é o Povo de Deus que Jesus pensou. Assim, em vez de vivermos sonhando com um passado que não deve voltar mais – porque a história deve continuar para a frente, até Deus – devemos arregaçar as mangas e ajudarmos a Igreja hoje, agora. Precisamos dar a nossa contribuição e, não só como queremos, mas como é possível e como pensaram nossos pastores, os bispos em unidade com o nosso Papa. Nem demais e nem de menos, não um retorno exagerado do que já passou e muito menos um futurismo moderno ao extremo, deve haver o equilíbrio. Resta-nos orarmos ao Senhor da messe que nos converta e olharmos para o exemplo da Virgem Maria e de tantos santos e santas que viveram para amar e servir. Olhando para eles e seguindo seus exemplos de fé e dedicação estamos no caminho certo. Não podemos ser católicos de vez em quando, muito menos de qualquer jeito! Que Deus nos conduza sempre.


Pe. Rômulo Azevedo da Silva

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

DIALOGANDO COM UMA AMIGA SOBRE FELICIDADE

          Estes dias uma pessoa me fez uma pergunta já conhecida por todos nós. “Padre, o senhor é feliz?” Quando eu era mais jovem respondia com mais atrevimento e rapidez a esta pergunta. Hoje eu me questiono primeiro o que seria felicidade para poder dizer algo. O mundo que vivemos e estamos construindo é um mundo acostumado a mudar o sentido das coisas ou, o que é pior, perder as essências, pelo menos às vezes. No fundo esta pergunta foi só introdutória. Esta querida pessoa queria perguntar-me o que fazer para ser feliz.

          Em primeiro lugar, gostaria de dizer a ela que, para mim, felicidade não é um sentimento, mas uma realidade, uma verdade, um estado de vida que se percebe pelos sentimentos. Felicidade é algo que se vai construindo com o passar dos tempos. Se a vemos como um sentimento corremos o risco de pararmos nas primeiras dificuldades ou decepções. Os sentimentos mudam, mas o que verdadeiramente construímos permanece. Assim felicidade, para mim, e tenho visto em muitos autores e especialistas, é muito parecido com amor, perseverança, continuar lutando por mim mesmo, por um nós e pelo mundo.

          Minha amiga queria saber se era feliz, se era digna da felicidade ou se esta estava em sua vida mesmo quando se sentia fraca. Fez-me uma nova pergunta: “O senhor sempre está bem?” Gostaria de afirmar que não! E, pelo conhecimento que já tenho da vida, que pode ser pouco, mas já é algo, acredito que jamais nos sentiremos completos e felizes plenamente aqui neste mundo imperfeito (porém belo). Teremos partículas de felicidade. Quero lhe dizer que também sinto a mesma paz inquieta, como diz Pe. Zezinho em suas músicas. Sempre um pouco de angústias nos acompanham. Só espero que tudo se reverta em bem para alguém, para o mundo que precisa ser amado e sentir que há pessoas capazes de sentir a dor e não correr. Não precisamos ter medo quando sentimos algo ruim em nós. É importante saber que não podemos abafar, precisamos contar com alguém, procurar ajuda e, antes de tudo, buscarmos o amor de Deus. Só Ele nos preecherá como precisamos. Não esqueçamos que as dúvidas, dores e sentimentos áridos sempre estarão presentes em nossas vidas.

Não é você que é imperfeita minha cara amiga, muito menos você é indigna de ser feliz. Não esqueça, antes de tudo, que felicidade é a certeza de que estamos no caminho do bem, de Deus. Isto, pelo que você me disse, já faz parte de sua vida. Então não se preocupe, continue caminhando, confiando nas pessoas certas, buscando ajuda, rezando... não fique apegada aos sentimentos, preste atenção aos frutos de sua vida, releia a sua história, veja que há bem mais coisas boas do que coisas ruins. Você mesma me disse que tem muito o que agradecer, muitas vitórias fazem parte de sua vida. É uma prova de que a felicidade real já está acontecendo. Tenha fé e continue sua jornada. Depois podemos continuar este diálogo sobre felicidade.

Deus nos conduza sempre!
Pe. Rômulo Azevedo da Silva

sábado, 7 de janeiro de 2012

PARA UM CRISTIANISMO QUE TRANSFORME

Partimos de um fato concreto que nos orgulhamos muito: nós somos pessoas inteligentes. Se isto é verdade, deveria ser uma verdade, igualmente, o fato de sabermos o que queremos. Estamos num mundo em constante mudança, devemos nos perguntar o que queremos construir. Diante de tantas perguntas e questionamentos uma querela não sai de minha cabeça: por que um continente de crentes cresce em desigualdade social? Por que não estamos sabendo mais nos comportar, nos entender, nos respeitar, cuidar da criação e cuidarmos uns dos outros? Estas não deveriam ser atitudes de pessoas que têm inteligência?

               Penso que partes do cristianismo, ou alguns cristãos – e me preocupo com muita força para que eu não seja um deles – volta a colocar máscaras, a pior delas é a chamada “teologia da prosperidade”. O que seria isto? A propaganda de um Deus que me abençoa na medida que eu contribuo com ele, uma espiritualidade de benefícios particulares onde o que importa é, muitas vezes, o eu pessoal. Se eu sou bonzinho com o Senhor, sou fiel, ele me abençoa com saúde, bens, uma família perfeita, ou, se eu fizer algo errado ele me condenará, tirará de mim tudo que puder, tornando a minha vida uma profunda imagem do próprio “demônio”. É uma visão presente no Antigo Testamento, só os ruins sofrem, os santos nunca sofrem, visão esta que começa a mudar com o pensamento e meditação Sapiencial, especialmente com o Livro de Jó, um homem justo e santo que sofre e que vai descobrindo que o sofrimento também pode ser transformado em experiência de fé. Mas o que queremos dizer é que estas idéias são exploradas ainda no mundo de hoje, e, o que é pior, para manter as pessoas em verdadeiros currais religiosos, num novo tipo de Egito com os seus respectivos faraós. Vejo só algumas Igrejas cristãs, ou pelo menos partes delas, preocupadas. Para o comércio é ótimo que a religião incite o consumismo e egoísmo. A verdade de Cristo não beneficia a mim mas ao todo; um mundo egoísta não quer o Cristo messias como ele se apresentou, quer o Cristo poderoso que pode facilitar minha vida. “Morrer para viver” torna-se uma proposta de louco, descartada para uma sociedade que está mais preocupada com o que sente e não com a realidade das coisas. Quando eu vejo este mundo de facilidades – e não estou querendo dizer que ser cristão é sofrer, muito menos gostar de coisas difíceis – lembro de algumas palavras do Senhor: “ Entrai pela porta estreita! Pois larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram! Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram! (Mt 7,13s).

               Permanecerá cristão, Igreja, quem entender o Cristo e a Igreja. Se não houver conversão, mudança de consciência, veremos nossa autodestruição mesmo com igrejas e templos cheios de gente. A pergunta é se nossos templos estão cheios de cristãos convictos, homens restaurados.

               Uma das grandes provas desta teologia da prosperidade é que as pessoas não querem pastores, mas manipuladores do poder sagrado. E não podemos negar que muitas vezes, nós os líderes, estamos escravizados pelo desejo da massa. O que importa, muitas vezes, é o número e não a qualidade, o coração das pessoas.

               Acreditamos e defendemos com todas as armas que Deus é amor e misericórdia quando queremos que este acreditar nos defenda em nossas libertinagens, quando o Deus misericordioso não nos “castiga” em nossas práticas egocêntricas e hedonistas. Porém quando tudo passa para o campo do sofrimento humano, ou de conseqüências de nossas escolhas, fraquezas e doenças, logo Deus deixa de ser todo poderoso, amoroso e misericordioso e passa a ser um sanguinário, vingador e massacrador de vidas, chegando a permitir que crianças e jovens sintam o peso da condenação que não merecem. Recuso-me a crer num Deus que não faz nada quando pessoas inocentes são dizimadas. Assim temos duas saídas: tiramos a culpa dele ou, com motivos, o afastemos de nossas vidas o quanto antes!  Um Deus que permite maldades, que espíritos, entidades ou energias façam o mal sem nenhum controle é mais fraco do que eu e do que muitos homens e mulheres, de muitas culturas e religiões, que lutaram e lutam para construir o bem. Mas o homem não faz o mal? E por que Deus não faz nada? Aí é outra história... o que estou querendo dizer é que muito do que colocamos nas costas de Deus é fruto de nossas escolhas e decisões, está dentro do espaço de nossas capacidades de resolver. “Nem 8 e nem 80”. Não podemos transformar o cristianismo em uma religião de satisfação, não podemos deixar Deus como culpado de todos os males do mundo e, muito menos, podemos deixar de pedir a ele misericórdia e sabedoria para crescermos.

               A questão é experimentar Deus. Não se experimenta porque não se vem para ser Igreja, se vem, às vezes, para um ritual, uma cerimônia. Falta silêncio, mística, etc. Não aproveitamos o que nossa Igreja nos oferece; as próprias pastorais não se fazem presentes, nos limitamos ao mínimo, todos nós. O povo e os jovens estão mais abertos a sensações do que a compromissos e adesões intelectuais e espirituais. Há, porém, uma diferença entre a fé do silêncio para a fé do imediato, da religião da certeza da presença para a religião dos sentimentos e satisfações imediatas. Não preciso ficar esperando e frustrado porque a Hóstia Consagrada não fala ou porque não vejo um anjo ou um santo do Céu, não preciso cair na onda do sentimentalismo religioso. Se eu tiver fé, se tivermos fé, ela nos dirá que Jesus está presente. Isto já é muito, já é o que precisamos para fazer um mundo melhor.

               Para aqueles que só criticam e que nunca vêem nada de positivo é bom lembrar algo importante: não podemos viver em função dos exemplos que não deram certo, precisamos construir juntos uma nova realidade. A missão não é para trazer todos para a Igreja Católica obrigados, nem encher os nossos templos, mas é para mudar estruturas injustas. Não adianta ter a igreja cheia se há muitas injustiças e não temos coragem de ir contra todas elas. Precisamos de qualidade e não quantidade, precisamos de coragem. E jamais teremos esta coragem se fizermos opção por um cristianismo da “teologia da prosperidade”. Prosperidade sim, ser um consumidor egoísta de Deus não. Fiquemos com o que nos diz Jesus em outro momento: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá, e quem perder a sua vida por causa de mim a salvará. Com efeito, de que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se e a arruinar a si mesmo?” (Lc 9,23-25)



Pe. Rômulo Azevedo da Silva

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012


          Penso que, com o tempo, não serão mais grandes encontros, momentos e missas específicas e grandiosas, que sustentarão nossa experiência cristã, mas o alimento diário do compromisso familiar e comunitário. A família como um todo, unidos na oração e ação, serão o futuro da Igreja.
          A Meditação da Palavra deverá ser a solução para todos os problemas e desafios que temos hoje. E a Igreja deverá ser vista na sua verdade maior, ventre, Mãe que gera em nós o verdadeiro Cristo. Não um Jesus fundador de religião ou movimentos, mas o Filho que o Pai nos enviou, exatamente como ele é e como quis ser. Não podemos continuar cometendo o erro de querermos dar ao nosso Salvador a cara que imaginamos em nossos feudos e grupos. Precisamos encontrá-lo na sua essência, conhecê-lo, amá-lo e servi-lo à maneira da própria Igreja.
          Enquanto o inimigo quer nos dividir, pois nela está a derrota, devemos nos unir, voltar à experiência das primeiras comunidades cristãs: Povo de Deus fundamentado nos 12 Apóstolos, comunidades vivas na escuta da Palavra. Se quisermos um remédio ele é este: ENCONTRO COM A PALAVRA QUE CONTINUA VIVA E VIVENDO PELA IGREJA DOS APÓSTOLOS! Só isto, nada de enfeites, nada de moda, nada de sucesso, nada de muitos lugares ou muitos mestres, somente o Ventre da Mãe. “Se alguém não nascer do alto, não poderá ver o Reino de Deus! Nicodemos perguntou: Como pode alguém nascer, se já é velho? (...) Em verdade eu te digo: se alguém não nascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus” (Jo 3,3.5).


Pe. Rômulo Azevedo da Silva