segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

POUCAS PALAVRAS E GRANDES ASSUNTOS

          



           Uma religião que não respeita as outras ou que se acha o centro do universo não deveria ser ouvida. Quem "faz" religião assim não deveria ter crédito. O líder religioso que não está aberto para o diálogo ou para o novo não serve nem para líder de seu próprio ser. Infelizmente as pessoas estão tão vazias que correm em busca de qualquer coisa. Em todos os lugares há pessoas que agem assim, que não estão preocupadas com o outro, mas só com a sua própria fama e lucro. Jesus nos disse que entre nós não deveria ser assim. Destruiremos a nós mesmos, como já fizemos tantas vezes, e ao mundo se continuarmos assim. Podemos defender o nosso ponto de vista ou credo, porém, o homem sábio, jamais obriga o outro à força. Não estou certo quando falo do que sou ou creio atacando o outro, muito menos desvalorizando o seu mundo. Podemos crer diferente. Deus, a única verdade, não nos deu autoridade para escravizarmos o outro, muito menos religiosamente falando. Fazemos isto e está na hora de parar. Jesus nunca arrastou à força, chamava e esperava a resposta. O amor sempre deixa livre!

Pe. Rômulo Azevedo da Silva

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

QUARESMA, TEMPO DE ENCONTRO E RELACIONAMENTO

“CONVERTEI-VOS E CREDE NO EVANGELHO” (Mc 1,15).
                                                                     
                                                                             Por Pe. Rômulo Azevedo da Silva

Estamos vivendo mais um ano litúrgico, quando o Espírito Santo de Deus nos dá a oportunidade de mergulharmos em todo o mistério e ministério da vida de Jesus. A liturgia é lugar primordial de encontro com o Senhor da vida e da história. A quaresma é uma caminhada, um tempo de meditação; nos prepara e capacita para chegarmos com pés firmes no maior acontecimento de nossa fé, a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Assim, é um tempo nosso, um presente que a sabedoria de Deus criou e nos deu, dentro, vem todo o seu amor e carinho.
Não há a menor dúvida de que o Senhor nosso Deus nos criou para a felicidade e nos convida incessantemente para participarmos de sua alegria. Deus é um Ser imensamente feliz; em cada coisa criada, Ele imprimiu a marca de um desejo de contentamento e felicidade; basta olharmos para todo o espetáculo de luzes e cores que nos mostra a natureza e veremos o estrondo da vida que borbulha em todo o universo. É no homem, contudo, que isso se constata de modo mais real e marcante.
Nossas vidas são feitas de momentos; estes dependem de nós e de nossas escolhas. Às vezes fico me perguntando o que está faltando para sermos felizes de verdade. Olho para a arte, a música, o teatro, o cinema e para tudo que o homem produz e me questiono; muitas são as querelas que surgem em meu peito também humano. O que será que está acontecendo? Por que não conseguimos o que mais buscamos? É belo ver todo o desejo de paz, amor e felicidade que carregamos em nossas almas, todos os sonhos que projetamos naquilo que criamos. Como não nos emocionarmos ao vermos cenas de filmes e novelas, músicas que mais parecem um espetáculo do próprio universo e crianças que ainda brincam e se encantam com as ondas do mar e com as promessas dos adultos. Tudo isso me faz acreditar em um mistério maior do que nós e de nossas capacidades físicas e intelectuais. Jamais chegaremos a ver um pouco do que foi preparado para nós se não nos colocarmos a caminho, jamais chegaremos se não enfrentarmos os desafios, perigos e emoções da jornada. A quaresma é este convite, que quer nos dizer que não veremos nada se dentro de nós não houver uma pré disposição para  o encontro com tudo que não só faz parte de nós, mas é nosso; ou melhor, somos tudo isso.
Então como viver bem este tempo, esta jornada? É claro que não viveremos bem se não entendermos bem a premissa filosófica há muito conhecida: “ninguém ama aquilo que não conhece”. Que Deus abra nossos corações para podermos entender um pouco mais.
A quaresma só pode ser entendida e vivida à luz do Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição, de Jesus. A Páscoa é a festa batismal da Igreja. No Cristo morto e ressuscitado, ela celebra o novo nascimento dos que são batizados e renova a Aliança batismal dos que já foram mergulhados nas águas da nova vida. Para esta festa a Igreja se prepara com a penitência.

PENITÊNCIA

Não podemos esquecer que a penitência não é uma lista de práticas nocivas ao nosso corpo, alma e até saúde; penitência é, antes de tudo, a nossa disposição de encontrar Deus e todo o seu mundo de amor e felicidade. Não é viver práticas externas somente; isto é fácil e pouco para uma inteligência tão complexa quanto a nossa; somos capazes de realizar coisas sem que estas nos toquem por dentro. A penitência quer transformar, fazer ver, levar-nos a um sentir que algo pode acontecer, que somos capazes de acolher ou renunciar a algo para nos tornarmos mais capacitados de experimentar uma realidade mais especial, concreta e fértil para nossas vidas. Será que uma pessoa que não sabe andar de bicicleta experimentará o sabor de ter uma experiência a mais do que quem já aprendeu a pedalar? Assim, penitência é um exercício que realmente toca na realidade de cada um; por isso, cada pessoa deve, se conhecendo, escolher livremente o que oferecerá ao Senhor como pedido, oferta e desejo de crescimento; é o lugar onde nós deixamos nossos próprios interesses e nos voltamos para Deus ( busquemos a Palavra de Deus – Joel 2, 12-18 ).

EXERCÍCIOS QUARESMAIS

No Evangelho de quarta-feira de Cinzas a Igreja nos proporciona uma profunda meditação sobre os exercícios da quaresma. Todos estes querem nos conduzir a uma real conversão. Este é o grande apelo e chamado da quaresma. A finalidade da vida de cada cristão é ser como o Mestre Jesus, santo e agradável ao Pai. Conversão não é viver uma vida de anjo, super-héroi ou extra-terrestre; santidade é nossa humanidade trabalhada à luz da pessoa de Cristo. Converter-se é mudar de direção, de perspectiva, de modo de vida, buscando tudo que nos ajuda a viver a proposta que escolhemos para nós. O atleta não deixa de comer ou fazer tudo que possa comprometer sua capacidade física e emocional? Assim também devemos ser em nossa vida espiritual.
Mateus nos apresenta uma síntese , o programa destes exercícios de e para a conversão, oração, jejum e esmola ( Cf Mt 6,1-8.16-18):


ORAÇÃO: Toda a nossa vida deveria ser uma oração, ou seja, uma comunicação com o divino em nós. A oração constitui uma abertura para Deus, para o próximo e para o mundo, a criação. A oração é também lugar de encontro com a verdade mais profunda na qual fomos criados; a verdade que somos nós mesmos. Orar é comunicar-se com o criador e Senhor de todas as coisas para, n’Ele e com Ele, descobrirmos o sentido da vida e de todo o nosso ser. Na oração descobrimos quem somos, quem é o outro, o que é o universo e quem é, na verdade, Deus. Se os homens e as mulheres da terra orassem  mais o mundo não estaria pedindo socorro das mais variadas maneiras. Quem não reza não cresce, não se conhece e não sabe o que está fazendo aqui ou qual seu papel no mundo e na sociedade; torna-se uma pessoa vazia e lunática, ferida e feridora, andando pra frente e pra trás buscando satisfações pessoais e individuais, egoístas, sem uma mínima preocupação com o planeta ou seus habitantes. Orar é uma questão de vida ou de morte.


JEJUM: Se a oração atinge o relacionamento do homem com Deus, o jejum o celebra com os bens criados na virtude da esperança. No seu relacionamento com a natureza o homem é chamado a ser livre, a ser senhor da criação e co senhor de si mesmo. O jejum não vale pelo que é nem pelo que acontece materialmente, biologicamente, fisicamente ou socialmente; vale pelo que significa. Jejuar não é fazer ou deixar de fazer coisas, é mais do que escolhas, é um encontro com nosso universo interior. Jejuar é abster-se de alguma coisa (comida, bebida, gestos , hábitos etc), é estabelecer o correto relacionamento de nossas vidas com tudo que a criação coloca em nossas mãos, é atitude de liberdade e de respeito para com tudo e nós mesmos, é uma luta contra mil maneiras de nos tornarmos escravos, é abrir espaço para nós mesmos, é encontro com nosso eu mais profundo. Quando estou jejuando estou dizendo a mim mesmo que sou capaz de adequar-me a um mistério que é maior que eu.


ESMOLA: A esmola celebra o relacionamento do homem com o seu próximo, na virtude da caridade. Dar esmola, na tradição cristã, significa dar de graça, sem interesse de receber de volta; dar sem egoísmo, sem esperar recompensa; com paixão (compaixão). O cristão, na esmola, tem a oportunidade de experimentar o gesto do criador que de muitas maneiras se doou a cada um de nós. Não é simplesmente ir até a nossa feira e tirar dela um pacote de macarrão e ofertar a alguém; é dar-se nas pequenas coisas, no que o outro precisa e não apenas no que nos sobra. Na esmola, a Igreja nos convida a repetir o grande sinal do Mestre que viveu segundo uma doação gratuita. Não é só bens materiais, mas o tempo, o interesse, as qualidades, o serviço, o acolhimento, a aceitação etc. A Igreja sabe que uma esmola não vai resolver os problemas sociais e humanos que nos cercam, até porque o ser humano, no fundo, não precisa de esmolas e sim de presença, e sabe também que é pelo que a esmola significa que ela vai  ajudar a uma verdadeira promoção humana. Não a quantia que importa, mas o gesto, ou o que o rito da esmola quer nos mostrar. Esmola é encontro de pessoa com pessoas, de um coração com outros corações.

FELIZ QUARESMA

Depois de termos visto estas dicas tão importantes podemos viver melhor este tempo de graça que Deus preparou para todos nós. Nosso objetivo não foi escrever um tratado, não há aqui nada de novo, somente  colocamos em palavras simples a espetacular riqueza do nosso tesouro da fé. Desejo que todos os meus irmãos e paroquianos tenham uma santa e abençoada quaresma. Que Deus e seu Espírito de Amor nos conduza. AMÉM!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO E PASSOS PARA OS QUE O QUEREM DE VERDADE


As palavras testemunho, serviço e casais têm um forte sentido e um profundo histórico na nossa Igreja e, especialmente, em toda a caminhada cristã. Em um mundo onde muitas pessoas não acreditam mais no verdadeiro amor e em tudo que dele deve brotar, como afeto, fidelidade, união, nós, discípulos de Jesus de Nazaré, devemos estar prontos para carregar nossa bandeira de anúncio, levantar nossas vozes de quem acredita ainda em um sonho que começou há mais de 2000 anos quando os discípulos do Mestre de Nazaré deram continuidade à sua missão. Este sonho e esta caminhada chegou até nós e também nos chamou, nos encantou. A vida e a esperança que o Senhor suscitou em todos e continua suscitando hoje nós chamamos de Igreja, ainda mais, somos esta Igreja.
Para nós, Católicos, Apostólicos, Romanos, o sentido do Sacramento do Matrimônio é o amor ágape, a caridade, a doação. Se todos os Sacramentos são lugares de encontro com o Cristo Vivo, se são sinais sensíveis e eficazes que além de nos mostrar onde Jesus está, também nos alimentam dele, cada casal tem e é um tesouro que só com  a nossa capacidade intelectual jamais iremos entender por completo. Contudo este tesouro também se torna missão, pois ninguém que ama consegue não ter uma atitude de comunicador do amor que experimenta dentro de si.
O casamento mulher + homem é certamente amado por Deus, pois ele é amor e misericórdia. Porém, nós católicos comprometidos com o discipulado de Jesus Cristo, não só ficamos na esfera do ser amado por Deus, o que já é muito, mas nos entregamos a ser, pelo Sacramento do Matrimônio, amor de Deus, sinal de Deus, presença, lugar onde Ele é visto, é um passo a mais. A escolha humana, o olhar de interesse que lançaram um para o outro, os levou, com a promessa do altar, a um pacto, uma aliança com outra pessoa, a Pessoa de Cristo e tudo torna-se uma missão porque quem faz aliança com o amor logo se torna mais e mais parecido com ele, tudo que é dele e faz parte dele passa a ser nosso e fazer parte de nós. Não é este milagre que vivemos e recebemos na Eucaristia? Alimentados de Cristo voltamos para casa com a graça de ser mais parecidos com ele, que se tornou, pelo Sacramento Eucarístico, parte de nós.
É tudo isto que recebemos e muito mais, tudo começou quando Deus nos deu o dom da vida e quando levou tudo a um grau mais elevado quando faz o segundo e profundo chamado de nossas histórias, o chamado a vivermos esta vida como cristãos. É o Batismo a sala de entrada para todo este mistério que podemos chamar de Céu, Deus conosco. Tudo o que recebemos no Batismo, se for colocado em prática durante cada ano de nossas vidas nos leva, sem dúvida, a uma vida doada, missionária. Como já dissemos, o amor tende a espalhar-se, nunca se fecha em si mesmo mas explode em uma eterna doação. O testemunho passa a fazer parte de nossas vidas quando acreditamos nisso tudo, e quando buscamos viver, os nossos corações explodem em serviço e testemunho como o do Pai explodiu neste espetáculo de luz e de cores que chamamos de Criação. O Espírito Santo, que é o amor em nós nos dá a graça da fé para nossa salvação.
E o que é salvação? Entre outras coisas, salvação é voltarmos a viver segundo a verdade mais profunda de nós mesmos, que somos imagem e semelhança  do Pai que nos criou por amor, no amor e para o amor. Uma vez que nos afastamos por algum motivo desta verdade nos sujamos e deixamos ficar sem brilho a parcela do Belo que está em nós e que somos nós. O homem não é ruim, ele é bom, lemos isto em Gêneses (Gn 1,26-31). O que acontece é que às vezes nos perdemos do caminho, só que uma vez sujos precisamos de conversão. É minha tomada de consciência de que preciso retomar algumas coisas para me identificar com Cristo, só ele pode fazer com que eu volte a ter o que perdi: a intimidade total com o amor. Todos os Sacramentos querem modelar Cristo em nós e nos modelar no Cristo. Preciso me preencher das atitudes do Cristo, ser como ele, como diz nosso querido Pe. Zezinho, “amar como ele amou, sonhar como ele sonhou, sentir o que ele sentiu”... e assim por diante, fazer o que ele fez: dar-se para ser testemunho do amor que é o Pai. Dar testemunho é uma questão de amor, de amar ou não amar. Se amo darei testemunho. Se não me encontrei com o amor vou dizer o quê? Já podemos ir percebendo a beleza do Matrimônio e de toda a vida de nossa Igreja.
 O Evangelista João nos trás o mais profundo de Deus: “Amados, amemo-nos uns aos outros, pois a amor vem de Deus. E todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Nisto se tornou visível o amor de Deus entre nós: Deus enviou o seu Filho único a este mundo, para dar-nos a vida por meio dele. E o amor consiste no seguinte: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou, e nos enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados. Amados, se Deus nos amou a tal ponto, também nós devemos amar-nos uns aos outros” (1 Jo 4,7-11).
O amor deve ser a centralidade da vida do cristão. Estamos aqui pra quê? Certamente para encontrarmos e nos aperfeiçoarmos no amor. A Igreja não é uma associação de bairro, um sindicato, um grupo de amigos somente – por mais que isto seja belo e necessário – com regras, estatutos e leis egoístas, é uma família que toma consciência, a cada passo, que deve crescer no amor, só n’Ele está a santidade que aspiramos; tenho insistido nisto neste texto mas é necessário.
O que será espiritualidade? Onde queremos chegar? O casal deve viver uma vida no Espírito, serem dois “buscadores” de Deus. O amor não é um sentimento, ele passa e dá sentido aos nossos sentimentos. Mas o amor em si é uma vida, um compromisso, uma jornada, uma Pessoa concreta com quem queremos caminhar e de quem devemos dar testemunho. O casal cristão deve saber claramente desta realidade, principalmente o casal que se torna Sacramento do Matrimônio. Há uma diferença entre receber um sacramento um dia na vida e em tornar-se este Sacramento em cada dia da vida, viver para ser neste Sacramento uma eterna celebração do que ele representa e do que ele é.
Testemunhar é tornar claro o que os outros não conseguem ver sozinhos. O que será que mais nos encanta e chama a nossa atenção nas pessoas que chamamos de santas? Certamente não é, ou não deve ser, dotes especiais, mas a capacidade que elas têm de refletir e transmitir, tornar clara, uma realidade que não vemos com muita facilidade. Quem de nós não se sentia alimentado de esperança e força ao olhar para João Paulo II, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Durce e tantos outros? Testemunhar é transparecer o que se acredita, quando se busca viver de verdade a escolha feita. Se nossas escolhas não são vividas não nos levarão a nada; a estrada não nos levará se não nos colocarmos a caminho. Se tentamos com sinceridade viver tudo isso, ou seja, a graça e o milagre que é nosso batismo, passamos logo a querer que outros vivam também. O amor é essencialmente missionário. O testemunho brota do amor bem experimentado, não o aprenderemos em uma faculdade, se vivemos o amor ele brotará, é conseqüência.
Depois de todo este itinerário não precisamos mais falar muito sobre a necessidade do serviço e que serviço devemos prestar na Igreja e no mundo. Ele está na mesma linha do testemunho, se amo eu me coloco a serviço. Por isso Maria é nossa mãe e o modelo mais forte do cristianismo católico, ela foi toda testemunho e serviço. Que ela nos ajude a sermos imagem de seu Filho. Amém!



Pe. Rômulo Azevedo da Silva

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

MENSAGENS - AMIZADE É CAMINHO PARA DEUS


        Um verdadeiro amigo deve amar o outro como parte de si mesmo. É verdade, “ninguém é de ninguém”, pelo menos no que se refere a possuir o outro. Verdade maior, porém, é que amizade é amor e vida. Não é possível amar sem entrega, assim, quem é amigo ama com a totalidade do seu desejo e do seu coração. A amizade é um toque do Céu, uma via indispensável para viver o amor a Deus. Obrigado Senhor pelos meus amigos. Do fundo do meu coração quero ajudá-los, com a minha presença, a encontrarem mais o que tanto tem sido o sentido de minha vida e de minha história: o amor ao infinito.

Pe. Rômulo Azevedo da Silva

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

NÃO, A UMA FÉ INSENSÍVEL

Acabamos de viver momentos bonitos na esfera eclesial, tanto no mundo como no nosso país. As notícias ruins são tantas, muitas vezes nos deixamos envolver por elas e vamos perdendo aquela coragem e esperança que embalaram milhares de cristãos antes de nós. Parece que até estamos perdendo a fé, ou, o que seria pior, o gosto pelas coisas de Deus e nos deixando levar pelas ondas desta modernidade que somos nós, atualidades que muitas vezes não nos fazem o bem que se propõem a fazer. Mas o interessante é que todos nós reclamamos, fazemos protestos, greves e pronunciamos críticas. Certamente cada um de nós tem algo a dizer sobre o mundo, a política, a economia, a religião e tantos outros assuntos que nos tiram a paz. O desastroso é que há muitas palavras e poucas mudanças. Uma primeira pergunta que me faço é: por que um povo que tanto quer liberdade, que tanto reclama com as coisas erradas e com os maus testemunhos não é capaz de ver e celebrar o que foi positivo?

            Estou falando, especialmente para nós católicos, do testemunho de João Paulo II, um homem que foi à cruz por amor à Igreja, de Frei Damião, o missionário do Nordeste, de Drª Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança e da Pessoa Idosa, de Ir. Durce, o anjo bom da Bahia e de tantos homens e mulheres que labutaram antes de nós. Não vi tanto entusiasmo da parte de muitos de nós com todo este espetáculo de maravilhas que o Senhor tem nos proporcionado nestes últimos anos. Parece que celebrar um papa ferido à bala e esmagado pelo tempo, uma mãe e profissional que morre triturada em missão de amor, um velho frade que muitas vezes era duro no que defendia por amor e uma velha freira que só viveu para os pobres, não encanta mais o coração de muitos que dizem ter fé. O que está havendo com nossas almas? Confesso que tenho medo, às vezes fico triste, deprimido mesmo. O amor e os sonhos espirituais estão nos deixando e não estamos percebendo.

Precisamos de uma nova chama, de um novo Pentecostes que nos faça novamente vibrar e sentirmos gozo com as coisas de Deus. “(...) Todos nós os escutamos anunciando as maravilhas de Deus em nossa própria língua. Todos estavam pasmados e perplexos, e diziam uns aos outros: “Que significa isso?” Mas outros caçoavam: “Estão bêbados de vinho doce” (At 2, 11-12). Acredito que se prestarmos bem atenção a estas palavra do Santo Livro vamos sentir algo mais em nós, pelo menos um pesar, um chamado para que tudo volte a nos encantar mais. Os primeiros que foram anunciar a Ressurreição de Jesus se empolgaram tanto que foram confundidos com bêbados. O que podem dizer de nós hoje?

            Parece que estamos um pouco frios, ou melhor, nos deixamos esfriar por tantas notícias desagradáveis. Esquecemos uma notícia fundamental: nosso modelo é Cristo e não o ser humano! Parece que estou em contradição, já que comecei falando de homens e dizendo que eles e elas deveriam ser importantes. Mas não é mesmo! Eles e elas foram importantes porque nunca perderam o foco principal: Jesus, o filho de Deus. Até o nosso querido Seridó está um pouco frio – não estou dizendo que está parado, que tudo está perdido – precisando de um pouco mais de fogo do Espírito Santo, de irmandade e familiaridade. Somos um povo fortemente religioso. Temos, porém, que reconhecer que precisamos de mais evangelização; e isto seria conhecer mais Jesus Cristo, preocupar-se mais com seus gestos, ações e missão. É mister deixar de ver Jesus como um mágico ou curandeiro ao nosso dispor e vê-lo como o Filho do Pai a quem devemos nos assemelhar. É claro que Ele nos dará o que for necessário, não foi ele que prometeu que se nos procurássemos em primeiro lugar  com o Reino nos daria os acréscimos?

            Vejamos a nossa participação na vida pastoral de nossas comunidades. Muitas vezes parece que vamos obrigados, como que para cumprir um preceito duro e imposto por um ditador malvado. Onde está a alegria que deveríamos sentir? São questões que colocamos não para nos ofender, as coloco para meditarmos juntos. Não estamos sem fé, só a estamos vendo de uma maneira equivocada, como já disse, estamos vendo as coisas meio turvas, borradas por tantas visões que nos sufocam. Não quero, e não é minha intenção, colocar aqui mais uma visão ou achismo. Digo que é urgente um retorno para Cristo. “Como meu Pai me ama, assim também eu vos amo. Permanecei no meu amor. Se observardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu observei o que mandou meu Pai e permaneço no seu amor. Eu vos disse isso, ara que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa” (Jo 15, 9-11).

Entendamos bem o que vamos dizer: precisamos deixar o fanatismo por “missas específicas” – missa pra isto ou para aquele objetivo pessoal – por bênçãos e curas só para melhorar a nossa vida pessoal e reencontrarmos o carisma primeiro da Igreja: ser discípulos e missionários do Senhor. Para isto precisamos amar e amar com conhecimento. Se não resgatarmos este amor real vamos ficar comunidades velhas, cansadas e enfadonhas, nunca vamos ter uma fé na praticidade do dia a dia. Não está faltando boa vontade em nossas vidas, grupos e comunidades. Está faltando um pouco mais de entusiasmo e responsabilidade. E isto só nos vem quando nos apaixonarmos e amarmos a Jesus como ele amou o seu Pai, a ponto de nosso querer ser o d’Ele e o d’Ele ser o nosso. Não é errado querer missas particulares, de cura ou libertação, muito menos é errado buscamos bênçãos e milagres, afinal somos miseráveis e pecadores e só a misericórdia de Deus pode nos amparar. O errado é entrarmos nesta onda de usarmos Jesus, nesta vida de Igreja que não é capaz de ver o que está realmente acontecendo e neste perigo de querermos tanto, pedirmos tanto e não sermos capazes de agradecer pelos milagres e testemunhos que estão nos sendo dados. Tenhamos cuidado, digamos não a uma fé insensível.




Que Deus nos conduza sempre!
Pe. Rômulo Azevedo da Silva